Ser ou ter, eis a questão
Já há algum tempo estive ausente deste site, pela falta de algo, consistente, para se dizer.
Gosto de escrever, porém espero que o “santo baixe”, pois já desenvolvo, por demais, meu raciocínio em literatura e arte. E, escrever o meu site, apraz-me deveras e revigora o meu convívio com o outrem.
No universo da arte, o faço de dentro para fora, sem artificialismo, somente com a força da inspiração. E, existem ainda duas condições que me deixaram longe da busca de ideias, para o meu dizer, neste aconchegante contato com o mundo virtual. Tenho composto algumas músicas e estou mergulhado em um novo projeto com um romance, em pauta. Quando estou com a criatividade voltada para estas manifestações, me envolvo, de tal maneira, que me enclausuro nas entrelinhas de minha verve artística e, assim, ponho-me ausente do mundo exterior.
A tela do monitor de meu computador é muito importante para a vivência de meu cotidiano, com as palavras. Ela me faz repensar, no repensar da vida – coloca-me onde todos nós devemos estar. Na sua área de trabalho, tenho quase sempre a imagem do infinito celestial, de constelações ou de alguns planetas.
No momento em que surge a imagem estelar, após ligar o computador, fico a cismar em nossa pequenez; no quanto somos, infinitamente, diminutos diante da grandiosidade do universo!
Em consequência, a minha prepotência, o meu narcisismo, o meu orgulho, a minha vaidade, a minha impaciência, a minha superioridade, a minha intolerância, o meu preconceito, etecétera, mais etecétera e tal, caem por terra e deixam-me a mercê da incerteza de “o que somos?”, quando nos julgamos melhores que os demais.
Minha gente, nós somos, ou melhor dizer, a nossa Terra é um insignificante grão de poeira, na imensidão do universo. Desta maneira, de vez em quando, é de bom alvitre olharmos para cima, numa noite estrelada e meditarmos sobre a razão de tanta opulência, de tanta vaidade, de tanta superioridade e desta incomensurável devoção ao poder!
Para a nossa felicidade é muito mais gratificante ser do que ter. Ninguém tira de nós o que somos, porém muitos cobiçam o que temos. E, o que possuímos hoje, podemos perdê-los amanhã. No entanto, a nossa intimidade, a essência do nosso âmago, ninguém as rouba. Elas nos pertencem, de fato. Neste pensar, é importante valorizarmos o caráter, a intelectualidade, o conhecimento, a educação, a saúde, a consciência, o amor; e, ainda, a fraternidade, a igualdade, a verdade, a justiça, a razão, o trabalho; e, assim por diante, a humildade, a lealdade, a honestidade, a paciência, a tolerância, o bom senso, o compromisso, e, mais além, a família, a amizade, os colegas, o companheirismo, a sociedade e por aí se vai, sempre adiante.
Infelizmente, o muito do que se vê, é o antônimo de todas as adjetivações e substantivos, enumerados, acima. Há uma inversão de valores, quando o homem passa a ser distinguido e valorizado, muito mais pelo poder que representa, do que pelo seu verdadeiro ser. E, quando o poder que ostenta se esvai a sua significância social se desmorona, como um castelo de areia na praia, sob a língua das ondas marinhas; resta-lhe, tão somente, o seu verdadeiro ser. Colhe-se o que se plantou! Já bem diz o dito: “se queres conhecer a essência de alguém, lhe dê poder”.
Augusto dos Anjos, poeta parnasiano, paraibano, do século dezenove, retrata na pureza de sua poesia a podridão, o desalento e o desespero do ser humano. O realismo de seus versos pútridos nos arremessa ao chão e nos faz repensar, por todas as falsas riquezas terrenas, que ousamos guardar nos cofres do possuir, sem nem mesmo buscar desfrutá-las, na vida.
O dinheiro foi criado para circular, para o prazer, para a felicidade, enfim, para o desenvolvimento, e não para acumular fortunas na busca de mais poder. O bem material é efêmero, quando não está sendo usado ou bem aproveitado socialmente. É bem mais gratificante, quando se é distinguido pelos valores inerentes ao âmago do ser humano. Os adjetivos da carne são passageiros, pela vida adentro.
O invólucro foi concebido para proteger o conteúdo, assim como uma embalagem resguarda o produto. A partir do momento que a casca se sobrepõe ao miolo, com algumas exceções, os valores ficam contraditórios. Já dizia os mais antigos, “madeira boa é madeira cerne”.
Posto o que são os verdadeiros valores da vida, sedimentados com a razão do real sentido do que propomos, como seres humanos, é muito mais importante ser do que ter.