Quem nunca sentiu saudade? Seja no cotidiano ou nos tempos que se consumiram, na poeira do tempo! A saudade é um sentimento dolorido que fere o coração, como lança espartana, que atravessava a armadura! É uma adaga que fere, macula, sem deixar marcas ou sangue.
A saudade mais dolorida é a do amor ausente! Quando se perde um grande afeto, alguém a quem se ama ardentemente. Chico Buarque a definiu de maneira cruel e desumana, “a saudade é o revés do parto; é a mãe arrumando o quarto do filho que já morreu”. Não existe saudade maior!
Outra saudade doída, dolente, que nos traz apatia é a perda de um grande amor, que se foi sem esperança de reencontro! Entretanto, a saudade do viajante e de quem espera é uma saudade apaixonada e esperançosa!
Já o avançar da idade reinventou a saudade. É, isto é verdade. No meu modesto entender, o viver é proporcional ao acúmulo de saudade. Quanto mais se vive mais armazenamos saudade. A bem da verdade, esta saudade é uma lembrança boa. É aquele passado que parece não ter ficado para traz, pois insiste em nos fazer lembrar. A pessoa idosa, de uma maneira geral, é a que mais fala do passado. Não que o presente não seja bom, mas, porque no passado se era jovem e o jovem é mais eloquente, mais alegre, mais irresponsável. É, a meu ver, a responsabilidade tolhe muito a vida, põe grilhões na conduta e nos nossos atos. A auto censura, então, nem se fala, coíbe muito a nossa criatividade; “isto não pode, somente aquilo é possível; não faça assim, faça assado; pense bem, senão já viu?; não diga nada, boca calada não entra mosquito; etecetera, etecetera…”. No entanto, o jovem pode, faz, não pensa muito, fala e diz o que quer. A criança, então, nem se fala; faz, fala e acontece. É livre como a brisa, que entra e sai onde quer. No entanto, é dependente.
No meu pensar, quanto mais distante é o tempo, mais a saudade aperta. Outrossim, as reminiscências da infância são mais distantes e mais ausentes da constante saudade. Nas nossas lembranças a juventude é mais presente, que a infância. A criança não tem tanta percepção, ao saborear a vida. Você vive e pronto. Ela é dependente da paternidade. Já o jovem, amadurece o viver. A gente namora, estuda, continua a brincar, passeia, tudo sem depender da opinião dos pais. Somos mais autossuficientes. O moço é livre. Assim, vive-se mais o envolvimento do viver.
A bem da minha verdade, a vida é nada mais, que uma sucessão de momentos, que se encadeiam, como os elos da corrente. A cada instante cria-se novo anel, que se concatena aos demais, dando continuidade ao viver.
Ao final de tudo, a cadeia de elos se parte, todavia, para o espiritualista, ela continua a se reinventar, só que invisível aos olhos. Para aqueles que ficam, a lembrança advém e a saudade aperta o peito, visto que permanecem atrelados à vida terrena.
Para mim, a saudade do jovem é mais amena, de vez que ainda tem muita estrada e o horizonte ainda é um ponto distante no infinito. Quando se para e busca, de ombros, reviver o que se passou, conclui-se que a aurora não está assim tão distante e ao retomar a caminhada tem muito o que se romper adiante, para abraçar o poente. Já para o velho, o que se passou é infinitamente mais longo, do que existe para se vencer. O porto fica bem mais próximo do navegante e o barco já começa a fazer água, dando mostras que a viagem está no fim, plena de lembranças e de histórias, prenhe de saudades.
No rosário da vida o importante não é a ladainha, mas o debulhar os tentos da reza, com fé, ao materializar a esperança e viver feliz, para ter o que sentir saudade!







