Crônica Botequim da Vida
O boteco é sensacional! Nele, você encontra os amigos, se diverte, se cerca de pessoas felizes, se afasta do estresse, se atualiza com as novidades, enfim, se encontra; além de tomar a sua bebida preferida, gelada ou em doses, se deliciar com vários tira-gostos, sem o trabalho nem de se servir. E, ainda faz novas amizades. Como bem diz o dito popular: “frequento os bares, porque nunca fiz um amigo em uma leiteria”.
Há alguns senões a serem considerados. Vamos a eles, sem nenhum pudor tendencioso ou mesmo preconceito repressivo. Existem aqueles, que são muito alterados pelo teor etílico que consomem. Ficam agressivos, nervosos, valentes e ousados. Outros, depressivos, tristes, combalidos e alguns chegam às lágrimas. Outrem faz do boteco o seu divã, buscando cura dos males, principalmente, do coração. Esses, me lembram os masoquistas, nos seus ávidos prazeres de apetecerem-se em sofrer.
Entretanto, mais interessantes, são aqueles que ficam ainda mais interessantes – os alegres, os felizes, os que gostam de um bom e descontraído “papo”, os que buscam os prazeres da vida e, finalmente, aqueles que não bebem a consciência.
Quando escutamos uma música em casa, não temos o mesmo prazer, como a ouvida numa mesa de bar, em principal, se for ao vivo, cantada por alguém, que tenha o dom da voz maviosa e canora. Um violão numa mesa de bar é diferente, especialmente, quando há o envolvimento de todos, cantando uma música brasileira. Até os desafinados se misturam em um coro de múltiplas vozes. O que importa é cantar e ser feliz!
No meu modesto pensar, existem algumas condutas, que devem ser observadas numa mesa de bar. Vamos a elas, sem parcimônia ou receio de ofender alguém. Trata-se, única e, exclusivamente, de meu pensar.
- Nunca faça do boteco um consultório de análise. Resolva os seus problemas, sóbrio e longe de bebidas. Após, refeito de seu incômodo, procure-o no encontro da alegria.
- Sempre busque companhias, que sejam como sua alma gêmea. Aquelas que lhe tenham empatia, que comungam o seu pensar. As que, quando você encontra, lhe levam a outras dimensões; o seu júbilo aflora, pela comunhão de ideias.
- Respeite os seus limites. Tem gente que a bebida não lhe altera o comportamento, são mais resistentes. Caso você seja mais frágil, beba com os resistentes, porém, sem tentar acompanhá-los, na quantidade de bebida consumida.
- Preste atenção, se após algumas garrafas você está começando a ser repetitivo, considere ser um dos sintomas do terreno da embriaguez.
- Quando estiver tomando uma cervejinha com os amigos, evite servir os seus copos. Cerveja cada qual gosta de tomar à sua maneira. Copo cheio, copo mais vazio, com espuma, sem espuma, enfim, cada um tem um paladar. E o mais importante: você não é garçom e o seu companheiro também tem mão. A coisa que me dá mais antipatia, eu que gosto de copo mais vazio, é o educadinho enchê-lo até derramar. Ou passar da gota d’agua.
- Troque considerações, mas evite a discussão interminável. O seu ponto de vista só interessa a você, principalmente, se o assunto é futebol, política ou religião. Tudo bem, manifeste o seu conhecimento sem muita emoção e, sobretudo, paixão. Deixe-a para o seu verdadeiro amor.
- Se você fuma, acenda menos cigarros, quando beber, pois a ressaca aumenta, essencialmente, com o tabagismo.
- Finalmente, volte para casa atento. Caso você passar um pouco da linha da sobriedade, evite conversar, vá direto para o quarto e tire um cochilo e, mesmo, se os familiares lhe recriminarem, não revide. Depois, com lucidez, discuta o seu comportamento.
Não sou nenhum psicólogo, nem tampouco tenho a pretensão de ditar regras ou ensinar boas maneiras. Apenas, estou expondo o meu lado da questão. Agora, voltemos ao boteco que é o principal motivo de minhas palavras.
Se o boteco não existisse teriam que inventá-lo, pois ele é como o amor, se tratado com respeito e responsabilidade só nos traz bons momentos.
Em toda a minha vida fui um dileto frequentador do bar. Nele expus minha arte, através de meus desenhos caricatos, fiz uma legião de amigos, compus música, escrevi poesia, me atualizei com as notícias do momento, deixei de pensar por algumas horas nas dificuldades da vida, cantei, mesmo não sendo um profissional do canto, e degustei uma boa bebida, com bons companheiros. Devo muito ao boteco; meu existir sem o seu aconchego seria efêmero, etéreo e vazio! E no meu fenecer, terei legado para a cultura, muito de minha arte, através dele.
Obrigado, meu botequim da vida!