Conversa Fiada
Dois amigos conversando na calçada da Casa São Jorge, em Araxá.
– Sábado passado, na Hora Dançante do Clube Brasil, chegou um cara de fora e a mulherada deu em cima.
– É sempre assim. Santo de casa não faz milagre.
– Um borra-botas. O neguim não tem nada.
– Mas cantou de galo no terreiro do vizinho!
– Por falar nelas, olha quem vem lá.
– Sandrinha! Joga um bolão!
– Pô cara, ela é um tesão.
– Marca gol até de firula.
– Viu a fisgada? Deu mole.
– Flertou, hein bicho?
– Cê manjou? Tô de olho há muito tempo.
– É muita areia pro seu caminhãozinho. E, tem namorado.
– Tô nem aí. Cochilou, o cachimbo cai.
– Com efeito, virou as costas, leva chifre.
– Pô, parou pra conversar com aquele engomadinho do Jofrinho. Viado!
– Viu a farpela? Diomeeeédes. Indumentária de Dia de Missa.
– Tá com nada. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.
– Tá com tudo. Nasceu em berço de ouro.
– Recebeu tudo de mão beijada. Um filhinho de papai.
– Mas tá por cima da carniça, o pai é montado na grana !
– É um taioba. Menteca. Se botá banca, eu não dou mole.
– Manera. É mauricinho, mas freqüenta a Academia do Barrão.
– Ah é? Sabia não…
– Uai, tá afinando?
– Ai, ai, eu com medo do Bebé do Pio.
– Mudando o rumo da prosa, ontem minha mãe me pegou no pulo.
– Cê deu moleza?
– Me pegou no flagra, dando um amasso na empregada.
– E aí, a coroa deu bronca?
– Pior. Depois da bronca, um particular com aquela conversa mole: “ vou contar pro seu pai, não foi essa a educação que você recebeu…”, uma ladainha.
– Ufa, fá! Conversa prá boi dormir. Lenga, lenga. É foda, cara!!!
– Mas valeu, ô meu! A menina é uma gata! Gostooosa… um avião!
– Cê ta enfronhado, neném.
– Eu sei das coisas. Sou bobo não. Fico de olho, manjando. Sou novo, mas sou vivido, morou?
– Tish, tish, tish … começou a tirar onda.
– Meio dia macaco assovia fazendo careta pra Dona Maria. Dona Maria está na janela macaco assovia para ela…
– Já são quase meio dia, bicho, veja aquele menino do Delfim Moreira indo prá aula, cantando.
– É, quem canta seus males espanta. Já passou da hora do rango.
– Nó!, com uma lua desta, olha a graia daquele cara, tropeçou e quase caiu.
– Uai, Deus proteje tonto e criança, sabia não?.
– Mudando o rumo da prosa, a Gertrudes caiu num conto do vigário.
– A Gertrudes do Paulinho?! Não me diga, cara?!
– Passou um vendedor de roupa, ontem, na cidade, e a Gertrudes comprou
um ban-lon, italiano, dele. Uma nota preta. Mostrou pro Paulinho e ele viu que era falsificado.
– É negão, dinheiro de trouxa, matula de malandro.
– Virou uma inhaca. O Paulinho foi na pensão que ele estava e armou o maior barraco. Deu até polícia
– Mudando de pau prá cavaco, a Glorinha emagreceu pacas, cê viu?
– Pois é, nessa toada vai virar um bambu vestido.
– Hiii… saca quem vem lá?! O purgante do Lalau.
– Hummm?! Será o Benedito?
– Dá papo não. Ele é um espanta rodinha.
– Oi gente, tudo em cima? E este calorão?
– Dá um tempo, cara. A conversa é particular.
– Que isso? Tá de mal com a vida? Eu hein? Pode largar!
– Ainda bem que ele se mandou. Esse cara dá nó até em goteira.
– De fato, se o caminhão do Zé Guerra passar, ele tá enrolado.
– Agora, mudando de pão prá rosca, o pai do Jóca fez uma reforma na frente da casa. Ficou uma gambiarra.
– Eu vi. E o velho é construtor, imagina!
– Pois é, casa de ferreiro, espeto de pau.
– Ah, cê viu o novo professor de inglês do Dom Bosco?
– Clérigo Arnaldo? É meu professor também, só que de português!
– O cara é um crânio, é professor também de latim.
– É, êle manja. O “teacher” saca, véio.
– Almoça e janta português, latim e inglês.
– Aproveitando a deixa, vou me mandar. Bateu a fome.
– É isso aí, Médio ó Médio. Matar quem está me matando.
– Dá um chego lá em casa, depois. Comprei o elipê “Crying”, do Roy Orbsion, e um compacto duplo do Roberto Carlos. Um barato, mora.
– Falou, bicho. Vai na sombra.
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Até eu tinha medo do Barrão, Tarcísio! Era famoso!!!! 😂