Crônica – Manias
Já dizia Flávio Cavalcanti, em uma música do passado: “mania é coisa que a gente tem, mas não sabe porquê…”. Pois bem, vamos reviver alguns destes costumes, ou excentricidades, ou esquisitices, ou desejo imoderado, ou extravagância ou quem sabe, até loucura. Um cotidiano que nos aflige, quando reincidimos na mesma atitude.
Mania, a gente não domina, a gente tem e pronto. Eu tenho um amigo que ao passar por alguém, caso lhe encoste a mão direita, tem que se voltar e encostar a esquerda.
Tive um parente, no passado, que só almoçava e jantava carne de porco, arroz e caldinho de feijão. De sobremesa, leite no prato, com bolo picado e após, um naco de pudim de leite condensado. E, assim de segunda a domingo, trezentos e sessenta e cinco dias por ano, na mesma hora e lugar. Pode? Pois é, podia.
O maníaco raramente muda os seus hábitos ou os lugares a que frequenta. Faça sol ou chuva ele está sempre naquele local e com os mesmos afazeres.
Tive outro parente, que no verão, somente se vestia com roupa branca e no inverno, com preta. E, ainda de capa e chapéu, logicamente, nas cores do vestuário.
Para finalizar e provar que mania é um ato inconsciente e mecânico – a gente tem e “pt, saudações” – conheço um indivíduo que portava uma longa barba, seu orgulho másculo. De certa feita, alguém lhe perguntou se quando dormia a barba ficava abaixo ou fora das cobertas, ele pirou! Inconsolável, teve que cortar as madeixas do rosto, pois não conseguiu mais dormir.
Eu, por exemplo, tenho pavor de aquário, de couro de onça e de flecha de índio heranças de um amigo que me incutiu estas manias.
O cigarro é mais uma mania, do que, propriamente, apenas um vício. Lembro-me de outro conhecido que parou de fumar, mas durante muito tempo carregava um maço de cigarros no bolso. E, veja bem, apesar de não mais fumar, tinha que ser da marca que ele fumava, caso contrário se sentia inseguro. Dá pra entender?
Muitas vezes a mania se caracteriza por um gesto mecânico dos nossos membros, ou órgãos dos sentidos, que muitos denominam sestro.
Agora vamos a algumas manias que muita gente tem e não sabe o porquê.
Mania de andar só de um lado da calçada.
Mania de não falar a palavra antônimo da sorte ou da (des) graça.
Mania de andar com pé de coelho pra dar sorte.
De somar os números das placas de carro.
De não poder passar debaixo de escada, que tira a sorte.
De ao tomar uma dose de cachaça, antes despejar um pouquinho no chão, para o “santo”.
De entrar em casa por uma porta e só sair pela mesma.
De quando a visita sair de casa, não a deixar abrir a porta, caso queira que ela volte. Do contrário ela nunca mais aparece.
De bater na madeira três vezes, diante de um mau presságio.
De assoviar durante o trabalho.
De morder a língua enquanto executa uma atividade.
De levantar os calcanhares, a todo instante, ao falar em público.
De passar a toda hora o dedo na ponta do nariz.
De se sentar no cinema na mesma cadeira.
De se sentar na igreja na mesma carteira.
De beber sempre, uma única marca de bebida.
De frequentar o mesmo ambiente, ano pós ano.
De deixar crescer a unha do mindinho.
De cavoucar o nariz, com o dedo.
De piscar um olho, a todo momento.
De dormir na cama, sem desarrumar as cobertas.
De contar as unidades do coletivo de tudo o que se vê.
De se vestir com as mesmas cores.
De tamborilar na mesa ou em demais superfícies.
De se levantar da cama com a perna direita.
No beisebol, cuspir no chão e coçar o sexo.
De fazer promessa ao almejar um desejo.
De fazer o sinal da cruz ao indício de uma atividade.
De dirigir carro com a mão direita no câmbio.
De coçar o ouvido com qualquer utensílio.
De cantar no chuveiro a mesma canção.
De contar aumentado tudo o que fez.
De roer as unhas da mão.
Mania de deixar os dois pés de chinelos sempre juntos.
Mania de não guardar roupas do avesso.
De guardar palito de fósforo usado na caixa outra vez.